Durante décadas, a imagem do buraco na camada de ozono pairou como um espectro sobre a humanidade, um símbolo gritante do impacto destrutivo da nossa atividade no planeta. No entanto, uma reviravolta notável está em curso. Graças a décadas de esforço concertado a nível mundial, este perigoso dano atmosférico está a caminho de uma recuperação quase total, marcando um ponto de viragem significativo na história da proteção ambiental.
A confirmação vem do painel de especialistas apoiado pela ONU, que, na sua avaliação quadrienal, "Scientific Assessment of Ozone Depletion: 2022", detalha um progresso notável. O relatório é categórico: se as políticas atuais permanecerem em vigor, a camada de ozono deverá recuperar para os níveis de 1980 – antes do aparecimento do buraco – em diferentes fases ao longo das próximas quatro décadas. Enquanto a recuperação global nas latitudes médias é esperada por volta de 2040, o Ártico deverá seguir o exemplo até 2045. A área mais afetada, a Antártida, levará mais tempo, com uma recuperação projetada para 2066.
O Vilão e o Herói da História
Para entender esta recuperação, é preciso recordar o vilão: os clorofluorcarbonetos (CFCs) e outras substâncias destruidoras do ozono (SDOs). A partir da década de 1970, cientistas descobriram que estes químicos, então amplamente utilizados em aerossóis, frigoríficos e aparelhos de ar condicionado, estavam a subir para a estratosfera e a destruir as moléculas de ozono (O_3).O ozono estratosférico é vital para a vida na Terra, funcionando como um filtro solar invisível que absorve a maior parte da perigosa radiação ultravioleta (UV) do Sol. A sua depleção significava um aumento do risco de cancro de pele, cataratas e danos em ecossistemas marinhos e terrestres.
O herói desta narrativa é, sem dúvida, o Protocolo de Montreal. Assinado em 1987, este tratado internacional histórico uniu o mundo num esforço sem precedentes para eliminar gradualmente a produção e o consumo de SDOs. O protocolo é hoje universalmente ratificado – o primeiro tratado na história da ONU a alcançar tal feito – e é amplamente considerado o acordo ambiental multilateral mais bem-sucedido de todos os tempos.
"A ação sobre o ozono estabelece um precedente para a ação climática", afirmou Petteri Taalas, Secretário-Geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM). "O nosso sucesso na eliminação progressiva de químicos que destroem o ozono mostra-nos o que pode e deve ser feito com urgência para abandonar os combustíveis fósseis, reduzir os gases com efeito de estufa e, assim, limitar o aumento da temperatura."
Um Processo Lento mas Constante
A recuperação da camada de ozono não é um processo linear e está sujeita a variações anuais. O tamanho do buraco da Antártida, que se forma a cada primavera do Hemisfério Sul, é influenciado por fatores meteorológicos, como a temperatura na estratosfera e a força do vórtice polar. Por exemplo, nos últimos anos, o buraco foi influenciado por eventos como grandes incêndios florestais e erupções vulcânicas, que podem afetar temporariamente a química estratosférica.No entanto, a tendência geral é inegavelmente positiva. A OMM relatou que o buraco do ozono em 2024 foi menor do que nos anos recentes, confirmando que a trajetória de recuperação se mantém. Cerca de 99% das substâncias proibidas pelo Protocolo de Montreal foram já eliminadas, permitindo que a estratosfera comece o seu longo processo de cura.
Lições Para o Futuro
A história da camada de ozono é mais do que uma boa notícia; é uma lição vital. Demonstra que, perante uma crise existencial, a humanidade é capaz de ouvir a ciência, agir coletivamente e reverter os danos que causou. O sucesso do Protocolo de Montreal não só protegeu a saúde humana e os ecossistemas, mas também teve um benefício colateral significativo na luta contra as alterações climáticas, uma vez que muitas SDOs são também potentes gases de efeito estufa.Enquanto o mundo enfrenta a tarefa monumental de combater as alterações climáticas, a recuperação da camada de ozono serve como um farol de esperança e um modelo a seguir: um lembrete poderoso de que a ação global, baseada na ciência e na cooperação, pode, de facto, garantir um futuro mais sustentável para o planeta.
Referências
* National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA). (2023). Scientific Assessment of Ozone Depletion: 2022. https://csl.noaa.gov/assessments/ozone/2022/* United Nations Environment Programme (UNEP). (2023, January 9). Ozone layer recovery is on track, helping avoid global warming by 0.5°C. https://www.unep.org/news-and-stories/press-release/ozone-layer-recovery-track-helping-avoid-global-warming-05degc
* World Meteorological Organization (WMO). (2023, January 9). Ozone layer recovery is on track, helping avoid global warming by 0.5°C. https://wmo.int/media/news/ozone-layer-recovery-track-helping-avoid-global-warming-05degc
* World Meteorological Organization (WMO). (2025, September 16). WMO Bulletin shows successful recovery of ozone layer, driven by science. https://wmo.int/news/media-centre/wmo-bulletin-shows-successful-recovery-of-ozone-layer-driven-science
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