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A Transformação em 365 Dias: Como John Lennon Deixou de Ser um "Garoto Certinho" em 1967

Um ano pode não parecer muito tempo na vida de uma pessoa, mas entre 1966 e 1967, o lapso de apenas 12 meses representou uma verdadeira revolução cultural e pessoal na vida de John Lennon e, por extensão, na história dos Beatles. As duas imagens de Lennon, tiradas com apenas um ano de diferença, são o testemunho visual mais gritante dessa metamorfose.


Na foto de 1966, vemos um John Lennon de 26 anos com um visual relativamente contido: cabelo liso e bem cortado (para os padrões da época), jaqueta de corte tradicional e uma gola rolê, lembrando a estética mod e a transição elegante que os Beatles haviam estabelecido após os ternos de "mop-top". Já na imagem de 1967, o visual é radicalmente diferente e totalmente imerso na Psicodelia: bigode farto, óculos redondos de arame que se tornariam sua marca registrada (muitos especulam que ele adotou para o filme How I Won the War em 1966, mas os manteve), cabelos mais longos, e um colar de miçangas vibrante sobre uma camisa estampada.

Essa mudança não foi apenas estética. Ela foi o reflexo de um movimento sísmico que atingiu a música, a arte e a consciência dos Beatles.

🚀 De Revolver a Sgt. Pepper: O Fim das Turnês

A chave para entender essa mudança acelerada está na decisão dos Beatles de parar de fazer turnês. O último show da banda ocorreu em 29 de agosto de 1966, no Candlestick Park, em São Francisco, EUA.

* Fadiga da Fama: Os Fab Four estavam exaustos das turnês. O volume do público era insuportável e abafava a música, o que os impedia de reproduzir as sofisticadas composições de seus álbuns recentes (Rubber Soul, 1965; Revolver, 1966). A pressão da "Beatlemania" era imensa e, nas palavras de Lennon, ele estava vivendo seu "período Elvis gordo", se sentindo inseguro e perdido (Lennon, 1980).

* O Estúdio como Laboratório: Ao se libertarem da obrigação de tocar ao vivo, o estúdio de gravação deixou de ser um local de simples registro e se tornou um laboratório de experimentação. Os Beatles, e John em particular, mergulharam em novas sonoridades, técnicas de gravação e instrumentações não convencionais (como o uso de fita invertida e loops de áudio em músicas como "Tomorrow Never Knows" de 1966).

Essa liberdade criativa foi o catalisador para a explosão psicodélica de 1967, culminando no lançamento de "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" (1967), um álbum conceitual que redefiniu o que um disco de rock poderia ser. Músicas como "Strawberry Fields Forever" (lançada como single no início de 1967) e "A Day in the Life" refletiam a complexidade e a imersão na cultura psicodélica e nas temáticas mais profundas da época.

💊 A Influência da Cultura Psicodélica e do Tempo

O ano de 1967 é frequentemente chamado de o "Verão do Amor", um período em que a contracultura e a psicodelia atingiram seu auge, especialmente com o Festival de Monterey. Os Beatles estavam no epicentro dessa mudança, explorando ativamente novas filosofias, espiritualidades e, notavelmente, substâncias psicodélicas como o LSD (ácido lisérgico).

A mudança de estilo de Lennon, com seus trajes indianos e influências hippie, estava em sintonia com essa busca por uma consciência expandida e uma rejeição mais clara das normas burguesas. Se antes ele era um ídolo pop de casaco e gola rolê, em 1967 ele era o intelectual enigmático e barbudo, um ícone da vanguarda artística.

Essa transição abrupta em tão pouco tempo (dos 26 para os 27 anos) é um testemunho da intensidade e da velocidade com que a vida e a cultura se moviam no final dos anos 60.

Curiosamente, a banda terminou oficialmente em 1970, quando nenhum dos membros havia completado 30 anos. Essa juventude, combinada com o ritmo frenético de criação e o impacto cultural avassalador, fez com que cada ano na vida dos Beatles parecesse uma década. A imagem de 1967 captura John Lennon em seu pico criativo e de transformação, um ano que mudou seu visual para sempre e pavimentou o caminho para a sua fase mais experimental e politicamente engajada.

📚 Referências 

Lennon, J. (1980). Entrevista para a Playboy Magazine (D. Sheff, Entrevistador).

Turner, S. (2018). Sgt. Pepper: A História por Trás da Obra-Prima dos Beatles. Leya.

Unterberger, R. (2009). The Unreleased Beatles: Music and Film. Backbeat Books.

Womack, K. (2016). The Beatles Encyclopedia: Everything Fab Four. Greenwood.



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