A médica Ellenn Salviano salvou a vida de um bebê de três meses com dificuldade respiratória em Santa Cruz, no Rio Grande do Norte, ao improvisar uma máscara de oxigênio com uma embalagem de bolo, já que o hospital não tinha o equipamento adequado.
A engenhosa solução estabilizou o bebê, que foi transferido para um hospital em Natal e se recuperou. Ellenn destacou a urgência de investimentos em equipamentos básicos, como o "capacete" de oxigênio, que custa cerca de R$ 500. Um gesto simples, mas que fez toda a diferença.
Esses “capacetes” são confeccionadas em Acrílico Transparente, possui abertura superior estilo tampa que facilita o monitoramento dos pacientes que estão sobre tratamento de alta concentração de O2 ou umidificação.
Formada em medicina em 2015 em uma universidade privada do Rio Grande do Norte, Ellenn Salviano, de 41 anos, é natural de São Miguel, na região do Alto Oeste potiguar, mas mora em Natal. Também formada em direito, casada, mãe de três filhos, a profissional começou a atuar em unidades básicas de saúde e depois foi convidada para o hospital municipal de Santa Cruz, onde é plantonista às segundas-feiras há quase 8 anos.
A profissional ficou conhecida por um improviso que salvou a vida de um bebê de 3 meses, no hospital do município da região Agreste. Na última segunda-feira (10), junto à sua equipe, ela decidiu usar uma tampa de bolo como um capacete de oxigênio, até a unidade de saúde receber um equipamento emprestado e a criança ser transferida para o Hospital Varela Santiago, em Natal.
Durante a pandemia da Covid-19, Ellenn fez parte da equipe da UTI do hospital municipal. Além de Santa Cruz, ela trabalha no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) Metropolitano às terças-feiras e no Hospital de Pirangi, em Parnamirim, nas sextas.
A profissional também faz plantões em outras unidades, como a sala vermelha de uma Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) de Parnamirim e em um hospital privado de Natal, sem dia fixo.
Nos hospitais e no Samu, ela atende principalmente pacientes adultos, mas também acaba recebendo crianças e bebês em situações graves. Ellenn revela que está em uma transição de carreira, se especializando em cardiologia clínica.
Para a médica, o maior desafio profissional é trabalhar no SUS. "Trabalhar em serviços particulares é fácil, porque eu tenho tudo à mão, tudo o que eu preciso. Falta também, porque falta em todo canto, mas no SUS eu tenho que sair de casa todo dia pensando em como eu posso me reinventar. E eu tenho uma equipe que eu digo que é minha equipe cão, porque o inferno não escolhe. Vem tudo", afirma.
"Minha equipe, quando estou com eles, eu sei que a gente não precisa escolher o paciente. O problema vem e eu sei que a gente vai dar um jeito, com oxigênio ou sem oxigênio, e eu sei que ali a gente vai se reinventar para o paciente ter a assistência que precisa", diz.
A Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde) alertou em 2022, em nota, sobre a possibilidade de faltar insumos médicos e materiais para exames nos hospitais do país. Tal cenário é perceptível pela população brasileira nos atendimentos no sistema público de saúde.
Segundo explicou o presidente da CNSaúde, Breno Monteiro, os procedimentos eletivos, como exames preventivos, foram adiados durante o ápice da pandemia e consultórios fecharam. Com a volta gradual à rotina, os exames represados devido ao adiamento demandaram uma grande quantidade de insumos. De acordo com ele, a situação mais crítica é a dos soros hospitalares e contrastes radiológicos. E a escassez está presente tanto na rede pública quando em hospitais privados. As secretarias municipais de Saúde foram as primeiras a detectar o problema e reclamar à confederação.
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