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Alerta Vermelho na Amazônia: Brasil Perdeu uma "Espanha" de Floresta em 40 Anos

Um novo e alarmante estudo revela a dimensão da destruição na maior floresta tropical do mundo. Nas últimas quatro décadas, a Amazônia brasileira perdeu uma área de vegetação nativa superior ao território da Espanha. A principal causa? O avanço da agropecuária, que está empurrando o bioma para um ponto de não retorno com consequências catastróficas para o clima e a biodiversidade.


Imagine um país inteiro, com suas cidades, campos e rios, sendo completamente varrido do mapa. É essa a escala da devastação que a porção brasileira da Amazônia sofreu entre 1985 e 2023. Dados do MapBiomas, uma iniciativa que une universidades, ONGs e empresas de tecnologia para monitorar o uso da terra no Brasil, apontam que 55,3 milhões de hectares de floresta foram destruídos nesse período. Uma perda que representa 14% de toda a vegetação nativa do bioma, uma área colossal difícil de visualizar, mas que os especialistas comparam ao território da Espanha para dar uma noção da gravidade da situação.

Essa destruição, longe de ser um processo natural, tem um motor principal bem definido: a ação humana. Segundo o levantamento, a conversão de floresta para pastagem destinada à criação de gado foi o principal vetor do desmatamento. A agropecuária, de forma mais ampla, incluindo a expansão de lavouras como a de soja em áreas já desmatadas, juntamente com a mineração e a extração de madeira, formam o quarteto que avança sobre a floresta.

O Risco de um "Ponto de Inflexão"

Mais do que a perda de árvores e da riquíssima biodiversidade que abrigam, os cientistas alertam para um perigo ainda maior: o chamado "ponto de inflexão". A floresta amazônica é um sistema que se auto sustenta, gerando grande parte de sua própria chuva. O desmatamento contínuo, no entanto, interrompe esse ciclo vital.

Pesquisadores como o climatologista brasileiro Carlos Nobre advertem que, ao atingir um certo limiar de desmatamento – estimado entre 20% e 25% da área total –, a floresta pode perder sua capacidade de se regenerar. A consequência seria a savanização de vastas áreas, especialmente no sul e leste da Amazônia, que se transformariam em um ecossistema mais seco e degradado, semelhante a um cerrado. As implicações de tal mudança seriam globais.

A Amazônia funciona como um gigantesco "ar-condicionado" para o planeta, regulando o clima e absorvendo bilhões de toneladas de dióxido de carbono (CO_2), um dos principais gases de efeito estufa. A perda da floresta não apenas cessaria esse serviço ambiental crucial, mas também liberaria na atmosfera o carbono estocado em suas árvores, intensificando o aquecimento global de forma dramática. Além disso, a alteração nos padrões de chuva poderia afetar a agricultura em todo o continente sul-americano.

Um Histórico de Lutas e Desafios

O combate ao desmatamento na Amazônia brasileira tem sido marcado por altos e baixos. Políticas públicas, como o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm), lançado em 2004, obtiveram sucesso notável, levando a uma queda expressiva nas taxas de desmatamento até meados da década passada. Essas ações se basearam em um tripé de monitoramento por satélite em tempo real, fiscalização ambiental mais rigorosa e pressão sobre a cadeia produtiva de commodities.

No entanto, nos últimos anos, o enfraquecimento dos órgãos de fiscalização e mudanças na legislação ambiental resultaram em uma nova aceleração da destruição. Embora dados mais recentes indiquem uma nova tendência de queda, o desafio de zerar o desmatamento ilegal e promover um modelo de desenvolvimento sustentável para a região permanece imenso.

A perda de uma área equivalente à Espanha em quatro décadas é um alerta contundente. A sociedade brasileira e a comunidade internacional se deparam com a urgência de fortalecer as políticas de proteção ambiental, valorizar a bioeconomia e apoiar as populações tradicionais e indígenas, que são as verdadeiras guardiãs da floresta. O futuro da Amazônia, e em grande parte o do planeta, depende das ações tomadas agora.

Referências

* Agência Brasil. (2025, 15 de setembro). Em 40 anos, Amazônia perdeu área de vegetação do tamanho da França. Recuperado de https://agenciabrasil.ebc.com.br/meio-ambiente/noticia/2025-09/em-40-anos-amazonia-perdeu-area-de-vegetacao-do-tamanho-da-franca

* Lovejoy, T. E., & Nobre, C. (2018). Amazon Tipping Point. Science Advances, 4(2), eaat2340. https://doi.org/10.1126/sciadv.aat2340

* MapBiomas. (2024). Mapeamento anual de cobertura e uso da terra no Brasil de 1985 a 2023. Recuperado do site do MapBiomas. (Nota: O link específico para o relatório da Coleção 9 pode ser encontrado no site oficial do MapBiomas no período de seu lançamento).

* Projeto MapBiomas. (2024, 21 de agosto). Em 2023, a perda de áreas naturais no Brasil atinge a marca de 33% do território. Recuperado de https://brasil.mapbiomas.org/2024/08/21/em-2023-a-perda-de-areas-naturais-no-brasil-atinge-a-marca-historica-de-33-do-territorio/

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