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5G e Abelhas: Separando o Fato da Ficção Sobre o Desaparecimento das Colmeias

Circula na internet uma alegação alarmante: a nova tecnologia 5G estaria fazendo com que as abelhas abandonem suas colmeias em massa, ameaçando o futuro da polinização e da nossa alimentação. A imagem de enxames inteiros desaparecendo por causa de torres de celular é poderosa e assustadora. Mas será que ela corresponde à realidade? A ciência tem uma resposta clara, e ela aponta para outros vilões.


A preocupação com o declínio das populações de abelhas é legítima e extremamente importante. Esses insetos são vitais para a polinização de cerca de 75% das culturas alimentares do mundo. Sem elas, frutas, vegetais e nozes que são essenciais para nossa dieta se tornariam raros e caros. Nos últimos anos, apicultores de todo o mundo têm relatado um fenômeno preocupante conhecido como "Distúrbio do Colapso das Colônias" (DCC), onde as abelhas operárias simplesmente desaparecem, deixando para trás a rainha, ovos e algumas abelhas jovens.

Em meio a essa crise real, surgiram teorias que apontam a radiação eletromagnética, e mais recentemente as redes 5G, como a principal causa do problema. No entanto, ao analisarmos as evidências científicas, a história se mostra bem diferente. Até o momento, não existe nenhum estudo científico robusto e revisado por pares que comprove que a tecnologia 5G causa o abandono de colmeias.

Os Verdadeiros Inimigos das Abelhas

A comunidade científica global é praticamente unânime em apontar um conjunto complexo e interligado de fatores como os verdadeiros responsáveis pelo declínio das abelhas. São eles:

  • Pesticidas e Inseticidas: O uso massivo de agrotóxicos, especialmente os da classe dos neonicotinoides, é considerado o principal vilão. Essas substâncias, mesmo em doses que não matam as abelhas imediatamente, afetam seu sistema nervoso, prejudicando a capacidade de navegação, comunicação e forrageamento. Essencialmente, a abelha se perde no caminho de volta para casa.
  • Perda de Habitat: A expansão da agricultura monocultora e da urbanização destrói as paisagens ricas em flores silvestres, que servem de alimento para as abelhas. A falta de diversidade floral enfraquece as colônias, tornando-as mais suscetíveis a doenças.
  • Parasitas e Patógenos: O ácaro Varroa destructor é um dos maiores pesadelos dos apicultores. Ele se prende às abelhas, suga seus fluidos corporais e transmite vírus mortais, dizimando colmeias inteiras.
  • Mudanças Climáticas: O aumento das temperaturas e os eventos climáticos extremos alteram a floração das plantas, dessincronizando-a com o ciclo de vida das abelhas. Secas e ondas de calor também colocam um estresse imenso sobre as colônias.

A Pesquisa Sobre Campos Eletromagnéticos: O Que Ela Realmente Diz?

É verdade que existem alguns estudos que investigam os efeitos de campos eletromagnéticos (CEM) em geral sobre as abelhas. Algumas pesquisas mais antigas sugeriram que campos eletromagnéticos de frequências mais baixas (não especificamente 5G) poderiam interferir na capacidade de navegação das abelhas, que utilizam o campo magnético da Terra para se orientar. Um estudo de revisão da União para a Conservação da Natureza e Biodiversidade (NABU), na Alemanha, analisou 190 estudos e concluiu que a radiação eletromagnética pode ter efeitos negativos, como a redução da capacidade de orientação.

No entanto, é crucial entender que esses estudos não replicam as condições específicas das redes 5G e não demonstram o abandono em massa de colmeias. A maioria dos especialistas concorda que, embora a poluição eletromagnética seja uma área que merece mais pesquisa, seu impacto é considerado muito menor quando comparado aos efeitos devastadores e comprovados dos pesticidas, da perda de habitat e das doenças.

A narrativa de que o 5G é o principal culpado desvia o foco dos problemas reais e das soluções que precisam ser implementadas com urgência, como a regulação mais rígida de agrotóxicos e a restauração de habitats naturais.

Em vez de temer a tecnologia, a ciência nos mostra que a salvação das abelhas está em nossas mãos e depende de como tratamos o meio ambiente. Proteger esses polinizadores vitais significa combater os vilões já conhecidos e comprovados, garantindo que nossas futuras gerações possam continuar a desfrutar de um planeta diverso e de uma mesa farta.

Referências

* Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA). (s.d.). Colony Collapse Disorder. Recuperado de https://www.epa.gov/pollinator-protection/colony-collapse-disorder

* Kühn, S., et al. (2020). A review on the effects of electromagnetic fields on insects. Nature and Biodiversity Conservation Union (NABU). (Nota: Este tipo de relatório de ONGs, embora informativo, deve ser lido com o entendimento de que resume pesquisas existentes e não é um estudo primário.)

* Ondas da Ciência. (2019, 26 de julho). Efeitos de campos eletromagnéticos sobre as abelhas. Minas Faz Ciência. Recuperado de https://minasfazciencia.com.br/2019/07/26/efeitos-de-campos-eletromagneticos-sobre-as-abelhas/

* Tudocelular.com. (2019, 17 de maio). Desequilíbrio ecológico? Frequências do 5G aumentam temperatura corporal de insetos. Recuperado de https://www.tudocelular.com/curiosidade/noticias/n141752/5g-pode-afetar-comportamento-de-insetos.html

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