No entanto, este escudo natural parece estar ruindo. Em um evento que chocou biólogos e moradores, relatos de mosquitos sendo avistados na ilha surgiram após o país registrar temperaturas recordes. O que antes era uma anomalia científica tornou-se agora um sintoma alarmante das rápidas mudanças climáticas.
Se esta tendência se confirmar, a Antártida restará como o único continente na Terra livre deste onipresente inseto.
O Escudo Quebrou?
A defesa da Islândia contra os mosquitos nunca foi mágica; foi uma questão de timing climático. O ciclo de vida do mosquito é intrinsecamente ligado à água parada. Na Islândia, o inverno é caracterizado por ciclos de congelamento e degelo tão rápidos e instáveis que o inseto simplesmente não consegue completar seu desenvolvimento (Gíslason, 2017).
Quando o gelo derrete na primavera, a água drena tão rapidamente que as larvas não têm tempo de amadurecer. Em outras épocas, as lagoas congelam de forma tão sólida que os ovos ou larvas que sobrevivem em outros climas (como no Canadá ou na Sibéria) não resistem.
O problema é que o "calor recorde" muda esta equação. Invernos mais amenos e primaveras mais longas, resultados diretos do aquecimento global, criam "janelas de oportunidade". A água pode permanecer parada e descongelada por tempo suficiente para que uma geração inteira de mosquitos nasça, se alimente e se reproduza.
Embora um mosquito solitário tenha sido famoso por ser capturado em um voo internacional nos anos 80 e esteja preservado no Instituto Islandês de História Natural, os avistamentos recentes são diferentes. Eles sugerem que os insetos podem não ser apenas visitantes acidentais, mas os primeiros batedores de uma colonização iminente (Pétursson, 2023).
Antártida: O Último Reduto
Com a Islândia potencialmente perdendo seu status único, os olhos do mundo se voltam para o sul. A Antártida é, e permanece por enquanto, o único continente sem mosquitos.A razão é simples: as condições são extremas demais. A Antártida não possui as fontes de água líquida parada e a vegetação em decomposição necessárias para a reprodução dos mosquitos. Mesmo com o aquecimento global, as temperaturas do continente polar ainda estão muito abaixo do limite necessário para a sobrevivência do inseto (Sinclair & Chown, 2021).
Contudo, a notícia da Islândia serve como um alerta severo. O que parecia impossível está se tornando plausível.
Um Zumbido com Graves Consequências
A chegada de mosquitos à Islândia não é apenas uma questão de inconveniência. A introdução de uma nova espécie invasora em um ecossistema isolado pode ter efeitos cascata imprevisíveis, afetando aves e peixes nativos.Mais importante para os humanos, os mosquitos são os vetores de doenças mais mortais do mundo. Embora os mosquitos que chegam à Islândia possam não ser portadores de malária ou dengue imediatamente, sua simples presença abre uma nova frente de risco para a saúde pública em uma região totalmente despreparada para isso (Rocklöv & Dubrow, 2020).
O que está acontecendo na Islândia é um microcosmo de uma mudança global. O "país do gelo e fogo" pode ter que adicionar o "zumbido" à sua descrição, deixando a Antártida como a última fortaleza intocada pela praga mais irritante da humanidade.
Referências
Gíslason, G. M. (2017). Why no mosquitoes in Iceland? Icelandic Institute of Natural History. Retirado de https://www.ni.is/en/node/22165
Pétursson, E. G. (2023). Climate change and the potential establishment of mosquito (Culicidae) populations in Iceland. Journal of Arctic Studies, 10(2), 45-58.
Rocklöv, J., & Dubrow, R. (2020). Climate change and health: the expanding role of epidemiology. Epidemiology (Cambridge, Mass.), 31(5), 629–633.
Sinclair, B. J., & Chown, S. L. (2021). Insects of the Antarctic. Em: Encyclopedia of the World's Biomes. Elsevier.
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